Nos últimos anos, a eletromobilidade tem emergido como uma das soluções mais promissoras para enfrentar os desafios da mobilidade urbana e reduzir a pegada de carbono do setor de transporte. No entanto, enquanto essa revolução ganha impulso, é crucial abordar as disparidades de gênero que persistem no campo da tecnologia e da engenharia.
No Brasil, embora as mulheres representem a maioria dos estudantes em instituições de ensino superior, ainda enfrentam barreiras significativas em áreas consideradas “masculinas”, como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) reconhece a importância de promover a participação das mulheres na eletromobilidade e está comprometida em destacar os desafios e oportunidades que elas enfrentam neste setor em rápido crescimento.
Diversos estudos têm evidenciado a existência de desigualdades de gênero no mercado de trabalho. Essas desigualdades se revelam em praticamente todas as sociedades, embora em países desenvolvidos elas possam se apresentar em menor magnitude do que nos países em desenvolvimento. Observa-se que nos últimos 30 anos muitas mudanças ocorreram na sociedade e no mercado de trabalho brasileiro, contribuindo para uma maior inserção da mulher, mas as desigualdades de gênero ainda persistem.
Apesar de representarem uma parcela significativa dos estudantes, apenas uma pequena porcentagem de mulheres busca formação técnica em engenharia elétrica. Hoje, as mulheres brasileiras recebem, em média, 20% a menos que os homens, mesmo quando possuem ensino superior e exercem a mesma função. Essa desigualdade não apenas desvaloriza o trabalho feminino, mas também contribui para a sub-representação das mulheres na eletromobilidade e em outras áreas tecnológicas.
Um dos desafios mais urgentes é a perpetuação da majoritariedade masculina no setor de eletromobilidade, uma fusão dos setores de energia e automotivos. Desde cargos operacionais até posições de liderança, a presença feminina ainda é significativamente inferior. Essa falta de diversidade de gênero não apenas limita a inovação no setor, mas também cria um ambiente de trabalho desigual e excludente.
Além disso, é importante reconhecer o papel fundamental que as mulheres desempenham em um momento de escassez de mão de obra em diversos setores. Ao longo da história, desde a Revolução Industrial a Modernidade, as mulheres demonstraram sua capacidade de se adaptar e contribuir significativamente em tempos de crise e escassez de mão de obra, seja durante guerras ou em outras profissões tradicionalmente dominadas por homens. E é evidente, dada a velocidade de avanço da indústria de eletromobilidade, que cada vez mais precisaremos de força de trabalho para o mercado de eletrificação, desde gerentes de projetos a técnicos(as) eletricistas, que podem ser claramente desempenhados por mulheres.
Para enfrentar esses desafios, é crucial implementar programas de capacitação e treinamento voltados especificamente para mulheres na eletromobilidade. Desde cursos técnicos em engenharia elétrica até programas de desenvolvimento de liderança, essas iniciativas têm o potencial de fornecer às mulheres as ferramentas e oportunidades necessárias para prosperar no setor.
E, é nesse contexto, que surge a EV Women, a Associação de Mulheres do Mercado de Veículos Elétricos. Fundada em 2024, já conta com interesse de associação de executivas, empresas relacionadas ao setor e investidores em apoiar o tema e ser também beneficiada pelos programas propostos, que englobam criação de conteúdo especializado para eletromobilidade, eventos de networking e cursos profissionalizantes. A fim de, educar profissionais mulheres e a sociedade, por meio de programas que visem reduzir a desigualdade, mas, principalmente, potencializar as capacidades femininas para liderar, desenvolver mercado e instalar carregadores elétricos. Não somente no Brasil, mas sim em outros países da América Latina e Estados Unidos.
As políticas públicas que incentivem a participação feminina também podem gerar efeitos positivos substanciais na economia, como o aumento dos rendimentos das mulheres, que estimula a demanda por serviços e sustenta o crescimento e o emprego. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já estimou, no período 2017-2025, que a inserção de mais mulheres na economia brasileira poderia acrescentar R$131 bilhões em receita tributária e aumentar o PIB nacional em 3,3%.
Dito isso, é importante ressaltar que, mais do que políticas de equidade, é um importante dar oportunidade às mulheres de exercer seu potencial, sem cotas, sem comentários machistas, sem subordinação e, sim, com muito respeito e admiração por tudo conquistado por elas. Para falar desse tema, convidamos a todos, homens e mulheres, empresas privadas e públicas, instituições e órgãos de regulação, a fim de dialogar, educar e extinguir comportamentos que não são mais factíveis em 2024 – e nunca!
À medida que avançamos em direção a um futuro mais sustentável e inclusivo, é imperativo que a eletromobilidade aproveite o potencial das mulheres e promova a igualdade de gênero em todos os aspectos do setor. A ABVE está comprometida em promover uma cultura de diversidade e inclusão, apoiando seus associados que possuem políticas internas de equidade e capacitação das mulheres para liderar a transição para um futuro de transporte limpo e sustentável. Juntos, podemos superar os desafios e explorar todo o potencial das mulheres na eletromobilidade.