A Eletra divulgou na COP30 a Carta de Belém pela Eletromobilidade, uma veemente defesa do transporte sustentável como a melhor estratégia de desenvolvimento industrial do Brasil e da América Latina, com amplo impacto social, econômico e ambiental.
O texto assinado pela presidente da Eletra, Milena Braga Romano, diz que a indústria do transporte sustentável é a oportunidade de o Brasil avançar na “neoindustrialização” defendida pelo governo federal.
O documento conclui com um alerta: “ficaremos para trás se nada fizermos. Mas dá tempo. A hora é agora. Senão, o custo será alto demais: o custo do atraso”.
Tradicional associada da ABVE, a Eletra é a principal indústria brasileira fabricante especificamente de ônibus elétricos, com sede em São Bernardo do Campo/SP.
ÍNTEGRA
CARTA DE BELÉM PELA ELETROMOBILIDADE COMO ESTRATÉGIA AMBIENTAL,
ECONÔMICA E SOCIAL PARA A AMÉRICA LATINA
A eletrificação dos transportes nas cidades é a verdadeira escolha que deve ser tomada pelas nações latinoamericanas para atender aos três pilares básicos do que é sustentabilidade de fato: o social, econômico e ambiental. A Eletromobilidade na América Latina deve estar no “mapa do caminho”.
Os biocombustíveis têm sua aplicação que pode ser interessante, na área de transportes de médias e longas distâncias, como em caminhões pesados e ônibus rodoviários, neste momento; mas jamais podem ser pretextos para não investir na expansão da Eletromobilidade, em especial para os deslocamentos urbanos e metropolitanos.
Num País como o Brasil, parceiro no Mercosul e em outros acordos e tratados internacionais, onde a geração de energia elétrica é limpa em mais de 90% dos casos, deixar de aplicar esforços em ampliar a infraestrutura de distribuição, carregamento e frotas de ônibus, carros e caminhões de entrega elétricos é, no mínimo, uma decisão pouco inteligente, para não dizer que poderia estar atendendo a lobbys escusos e pressões suspeita.
O Brasil e demais nações parceiras na América Latina podem se tornar expoentes e tomarem posição de
destaque no mundo como grandes exportadores de tecnologias, veículos, equipamentos e conhecimento.
Sustentabilidade é atender a três pilares básicos.
O Meio Ambiente: Os ônibus, caminhões e carros elétricos não poluem em suas operações e em nações com fontes renováveis e limpas de geração de energia, deixam o ciclo ainda mais vantajoso.
O Econômico: Operar ônibus, caminhões e carros elétricos se mostrou vantajoso e vai ser ainda mais, com o barateamento dos veículos e baterias. A manutenção é mais simples, mais barata e gera menos impactos, com menos óleos, lubrificantes e fluidos, que deixam de ser descartados no meio ambiente.
O Social: Nesse aspecto, a indústria brasileira e dos demais parceiros na América Latina ganham de lavada. Afinal, com a produção local de ônibus, caminhões e carros elétricos, bem como de toda sua cadeia de equipamentos, suprimentos, conhecimento e serviços, geramos empregos e rendas aqui. Apoiamos o desenvolvimento social das famílias, que por sua vez, se tornam mais economicamente relevantes, consumindo mais, passeando mais.
Geramos arrecadação para o poder público investir no Social…Sim, social não é custo, é investimento. E exportamos, gerando para o Brasil e demais parceiros receitas globais, embarcando não apenas produtos latinos, mas produtos da América Latina de ponta e de alto valor agregado.
Atendemos o que as cidades precisam: um transporte mais confortável, eficiente e que não só
desloque as pessoas, mas faça o cidadão se sentir bem, prestigiado.
Onde há ônibus elétricos, por exemplo, sempre que podem, os passageiros fazem questão de deixar os modelos tradicionais a diesel passarem para esperarem os elétricos. Afinal, ônibus modernos, sem poluição, com quase nada de trepidação e barulho, não só conquistam demanda para os transportes, mas conquistam corações.
Veículo elétrico vai além de não poluir. Atende a saúde, a preservação da Vida Humana.
Mais um exemplo que vem do ônibus: Em média, pelo menos três pessoas têm as vidas poupadas e deixam de morrer por problemas de saúde ligados à poluição, quando mil ônibus movidos a óleo diesel saem de circulação e são substituídos por modelos verdadeiramente não poluentes, como elétricos a bateria, trólebus e ETrol (rede aérea e bateria). A conclusão é de um estudo do Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima (C40), divulgado pelo Ministério das Cidades na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025).
Entre as principais conclusões dos estudos da C40:
- A cada mil ônibus a diesel trocados por elétricos (bateria, trólebus e etrol), três pessoas não morrem por problemas de saúde associados à poluição;
- O ciclo de vida de um ônibus elétrico no Brasil e países vizinhos gera 77% menos emissões de gases de efeito estufa do que um modelo a diesel equivalente;
- Os ônibus elétricos são mais caros na aquisição, mas ao longo do tempo são mais baratos porque duram de 50% a 100% mais, têm custos de manutenção 25% menores em média;
- O custo energético por km (preço do diesel x custo da eletricidade);
- Ônibus elétricos podem atrair ou fidelizar demanda de passageiros, já que com menos ruídos e trepidações são mais confortáveis, o que pode manter ou amplias as receitas da operação;
- Podem ser oportunidades de indústrias e representantes da América Latina se reposicionarem no contexto da chamada “neoindustrialização”, se transformando em produtoras e exportadoras de veículos mais modernos e de maior valor agregado;
- São oportunidades de geração de empregos mais qualificados, com maiores salários, rendas e benefícios, estimulando também a preparação de mão de obra mais especializada, um aperfeiçoamento das instituições de ensino técnico e superior;
- Os grandes entraves hoje da infraestrutura para distribuição de energia e carregamento das baterias podem ser oportunidades para melhoria de serviços das distribuidoras, já que ao ajustar as redes de tensão dos bairros e cidades para os ônibus, outros consumidores, como residências, escolas, universidades, comércios, hospitais e igrejas são beneficiados.
Contra fatos não há argumentos. A Eletromobilidade é a estratégia em vários aspectos.
A América Latina tem sido invadida por produtos elétricos não adequados às realidades das cidades dos países da região porque tais veículos e equipamentos ganham em preços, frutos de políticas agressivas de subvenções de seus países de origem.
Estamos perdendo a oportunidade, ficaremos para trás se nada fizermos. Mas dá tempo. A hora é agora. Senão, o custo será alto demais: o custo do atraso.



