Primeiramente gostaria de pontuar alguns fatos que devem, ou deveriam, ser considerados para conceituar o “Combustível do futuro”.
Em 1876, portanto século IXX, N. Otto e G. Daimler patentearam o motor a combustão interna que é a base dos motores “modernos”. Estes motores térmicos, que operam no Ciclo Otto, têm hoje uma eficiência térmica entre 25% e 30%, ou seja, somente esta parcela da energia consumida é convertida em trabalho útil, sendo o restante perdido principalmente como calor.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos últimos anos tem diminuído o nível pluviométrico registrado. As pesquisas indicam que nos últimos 60 anos, o número de dias consecutivos sem chuvas aumentou em 25%, passando de 80 para 100 dias. Observa-se também que o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como secas severas, resultado das mudanças climáticas.
Analisando a produção agrícola, uma plantação de cana-de-açúcar, soja ou outras plantas requer um significativo consumo de água, que pode variar bastante dependendo de vários fatores, como o clima, região, tipo de solo, práticas de manejo, e a eficiência do sistema de irrigação. Mas podemos estimar que, em média, para produzir uma tonelada de cana-de-açúcar são necessários entre 1 mil a 3 mil litros de água, incluindo as perdas no processo, que irá resultar em 80 a 90 litros de etanol hidratado.
Vamos olhar mais um exemplo: a soja, nesta cultura, precisa, em média, de 1,3 a 1,6 milhões de litros de água para produzir 1 tonelada de grãos, número que irá variar dependendo das condições climáticas, do tipo de solo etc. Sendo que cada tonelada de soja processada produzirá aproximadamente 190 kg de óleo de soja.
Importante mencionar que nas grandes plantações pode haver perdas significativas de água durante o processo de irrigação, embora a eficiência dos métodos de irrigação esteja melhorando. Essas perdas ocorrem devido a fatores como evaporação, drenagem profunda e escoamento superficial.
Outra variável importante para a equação, são os motores flex, utilizados em grande escala somente no mercado brasileiro e, portanto, com limitadíssimo mercado para exportação. Estes motores são projetados para funcionar com diferentes combustíveis, e esta flexibilidade no uso dos combustíveis pode comprometer em termos de eficiência energética e performance, uma vez que a calibração dos motores se baseia em parâmetros “médios” teremos um resultado de performance “médio”.
Abro aqui um parêntesis para lembrar que a palavra “medíocre” tem origem do latim “mediocris”, que significa “de qualidade média ou moderada”.
Com estes fatos apresentados, não vejo como podemos nos referir a uma política de governo que contempla um combustível para motores de baixa eficiência térmica, alta emissão de CO2, que é produzido com elevado consumo de água, recurso que tende a se tornar cada vez mais escasso, que destinado basicamente ao mercado local, e que produz um resultado “mediocris”, sendo apresentado como o “Combustível do Futuro”!
Façam as suas reflexões, considerações e tirem suas conclusões.